sábado, 1 de junho de 2013

Exercício X Depressão: Mens sana in corpore sano!

 
 

Quando se fala de atividade física e saúde é impossível não nos vir à mente a famosa frase "Mens sana in corpore sano" ("uma mente sã num corpo são"), que é uma famosa citação latina, derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal. No contexto, a frase é parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida. Ao longo do tempo, a frase passou a exprimir a importância de conciliar os pensamentos com o corpo. O estudo da psicossomática (doenças derivadas de transtornos emocionais) veio confirmar a importância da conjugação desses dois fatores.
Porém, poucas pessoas ainda têm a noção completa da importância dessa conciliação, que fica cada vez mais clara à medida em que a ciência consegue mapear cada vez melhor a relação corpo-mente. Você sabia que a atividade física pode contribuir para sua saúde mental de diversas formas?
 
Por exemplo:
 
- Tem efeitos positivos em alguns neurotransmissores tal com alguns medicamentos antidepressivos.
 
- Produz substâncias químicas no cérebro, chamadas de “endorfinas”, que promovem a sensação de bem-estar e satisfação.
 
- Liberta a tensão nos músculos. A tensão muscular  contribui para a dor relacionados com a depressão e insônia.
 
- Reduz os níveis do hormonas do stress, como o cortisol, aliviando os sentimentos de ansiedade e agitação.
 
- Aumenta a temperatura do corpo, promovendo a sensação de relaxamento. Produz efeitos calmantes.
 
 
 
 
A depressão é um problema psicológico que drena grande parte da energia, impedido que a pessoa tenha força de vontade para realizar as tarefas do seu dia-a-dia. A perda de energia é uma das principais características da depressão. Na grande maioria das vezes os sentimentos depressivos estão associados à sensação de stress, o que leva algumas pessoas a refugiarem-se e a aliviar a sua ansiedade no excesso de comida. O que conduz a um ciclo vicioso tremendamente negativo. Isto porque a pessoa fica propensa a uma alteração da sua autoimagem e consequentemente é afetada na sua autoestima.
 
 
 
 
Porém, quando nos propomos a movimentarmo-nos e a fazer exercício físico, ocorre um estado de excitação geral do corpo. Esta ativação geral, inclui diversos sistemas do corpo. Desde a ativação do metabolismo cardiovascular, vários tipos de alterações endócrinas no cérebro, vários tipos de alterações hormonais e mudanças fisiológicas acontecem um pouco por todo o organismo. Este tipo de mobilização do corpo, faz com que existam igualmente algumas alterações no nosso cérebro, contribuindo para alterações positivas nos estados de humor. 
 
 
 
 
Mas se num estado deprimido a falta de motivação para a atividade física é um sintoma incapacitante, como é que as pessoas com depressão conseguem começar a exercitar-se?
 
 
Este é um problema com bastante relevância, porque quando você está deprimido, você não tem energia. Quando você pensa  em fazer exercício físico, e sente que não tem energia para o iniciar, emerge um sentimento de incapacidade e de paralisia da vontade, o que se torna paradoxal. Aquilo que mais necessita fazer, é aquilo que menos vontade tem para realizar.
 Pode parecer paradoxal, mas a prática do exercício físico gera energia.  
O que eu sugiro, é que comece muito devagar, pouco a pouco, saia de casa e caminhe, dê  alguns passos à volta da sua casa, ou numa rua perto. Assim que comece a movimentar-se um pouco, irá começar a sentir-se diferente, irá começar a sentir pequenas alterações de energia e vontade, o que lhe permite pouco a pouco ir aumentando a distância e tempo da sua caminhada ou outro tipo de exercício físico.
 
 
 
 
 
Absolutamente, eu tenho a plena convicção que qualquer tipo de profissional que esteja a ajudar uma pessoa com depressão ou deprimida, uma coisa importante que deve fazer é colocá-la ou incentivá-la a aderir a um programa de exercício físico. O exercício é vital. Caso, esteja a ser acompanhado por um profissional no tratamento da depressão, se não lhe foi prescrito a prática de exercício físico ou se não foi incentivado a iniciar um programa de exercício físico, aconselho-o a pensar no assunto, e/ou a discutir a ideia com o profissional que o acompanha.
 
 
 
 
 
Você pode vencer a inércia mental e física que muitas vezes o impede de fazer o que pode para se ajudar a si mesmo.
A primeira coisa que tem a fazer é decidir de que lado você quer estar:
no lado do seu próprio bem-estar, ou do lado da sua depressão.
Isso soa como uma decisão simples e óbvia, mas quando se trata de colocar os tênis e fazer realmente alguma coisa, pode exigir um verdadeiro ato de fé, especialmente se você já tentou começar a exercitar-se no passado e fracassou. A depressão faz com que se foque sobre o quão mal você se sente, como tudo parece perdido, e o quão patético e não-merecedor você é por não poder fazer o que  precisa ser feito. Esses sentimentos e pensamentos podem parecer mais “reais” e “honestos” para você, do que qualquer coisa positiva que possa dizer para si mesmo.
 
 
 
 
Quando você está lutando contra um adversário tão poderoso como a depressão, é preciso conhecer o inimigo e as suas fraquezas. É importante saber como lidar com a depressão. Use essas informações (como alarmes) para escolher estratégias eficazes e contribuir para o seu bem-estar. Como os sintomas mais preocupantes da depressão são emocionais e cognitivos, as pessoas muitas vezes esquecem que a forma como elas pensam e sentem as coisas, está diretamente relacionado com o que está acontecendo, quimicamente, no seu cérebro e no seu corpo.
Encontre uma maneira de se distrair dos pensamentos, o tempo suficiente para conseguir praticar a sua sessão de exercícios iniciais.
 
Quando os pensamentos negativos tomam conta de si, pare, respire fundo, e tome a decisão de estar do seu próprio lado, faça isso desta vez, mesmo que você não ache que isso vai ajudar.
 
 
 
 
Prepare-se para os retrocessos e recaídas!
 
O exercício regular nem sempre é fácil ou divertido. É comum por vezes quebrar com o programa que estabeleceu e pensar que você é um fracasso, ou de que nada funciona. Mas não desanime, não conseguir uma vez, não quer dizer que tudo está perdido, foi apenas uma desmotivação momentânea. Dê a si mesmo todo o crédito pelas vezes que você consegue fazer o exercício e, principalmente, os momentos em que consegue voltar a exercitar-se, depois de parar um ou dois treinos. Se não adiantar, procure um profissional da educação física (personal trainer), se comprometa com ele 2 x na semana, assim poderá ser um estímulo a mais para não parar o exercício.
 
 
 
 
 
(Colaboração do texto: Miguel Lucas - Psicólogo.)
 
 

Então... da próxima vez que você se ver dominado pela depressão ou preguiça em realizar um exercício físico, lembre-se que não é apenas a questão estética que está em jogo.
Os antigos romanos já sabiam disso: “Mens sana in corpore sano”!